quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Escritor-Fantasma

"... Sempre que Félix salta para cima da minha secretária, o perigo espreita. Incapaz de travar sobre a superfície de madeira escorregadia, ele desliza até embater no primeiro obstáculo. Esse é, regra geral, o teclado, o monitor ou a impressora, e nunca resulta em quaisquer danos excetuando algumas equimoses. Mas presumo que ele agora já esteja habituado a isso...
Já perdi a conta às vezes que substituí o rato ou o teclado, depois de terem ficado destruídos pelo café ou pelo chá da chávena contra a qual Félix chocou. Se estou prestes a repreendê-lo, a sua expressão deixa-me sempre desarmado. Tudo que consigo fazer é sorrir pela mistura singular de estupefacção e remorso. Além disso, eu também sou culpado. Félix salta para cima da secretária, sempre pelo mesmo lado. Se eu colocasse a chávena do lado oposto, nada disso aconteceria. É justo que eu pague o preço pelo meu erro."

O Escritor-Fantasma, Zoran Zivkovic, trad. de Maria João Freire de Andrade (Cavalo de Ferro)

Sem comentários:

Enviar um comentário