quarta-feira, 4 de julho de 2012

Liberdade

"... As andorinhas-do-mar erguiam-se de um clima subártico a outro, os gaviões dormiam a voar e nunca aterravam, os tordos cheios de cânticos esperavam por um vento sul e de seguida voavam doze horas sem parar, atravessando países inteiros numa noite. Os arranha-céus e os fios de alta tensão e os moinhos de vento e as torres de telemóveis e o trânsito nas estradas dizimavam milhões de migrantes, mas milhões conseguiam passar, muitos deles regressando à mesma árvore onde tinham nidificado no ano anterior, à mesma cumeeira ou zona húmida onde lhes tinham nascido as penas, e aí, se fossem machos, começavam a cantar. Todos os anos ao chegar, descobriam que mais e mais dos seus antigos lares tinham sido asfaltados e transformados em parques de estacionamento ou em estradas, ou as árvores cortadas e amontoadas, ou urbanizados em parcelas de terrenos, ou devastados para perfurações de petróleo ou mineração de carvão, ou fragmentados em centros comerciais, ou enterrados sob a produção de etanol, ou heterogeneamente arrasados para pistas de esqui, trilhos de bicicleta e campos de golfe... Mas os Estados Unidos ainda eram um país rico e relativamente jovem, e se se procurasse ainda podiam encontrar-se redutos cheios de vida aviária".

Liberdade, Jonathan Franzen, trad. de Maria João Freire de Andrade (Publicações D. Quixote)

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