domingo, 29 de julho de 2012

l'Amitié - Herbert Pagani

L'Amitié - Herbert Pagani

Ca fleurit comme une herbe sauvage
N'importe où, en prison, à l'école,
Tu la prends comme on prend la rougeole
Tu la prends comme on prend un virage

C'est plus fort que les liens de famille
Et c'est moins complique que l'amour
Et c'est là quand t'es rond comme une bille
Et c'est là quand tu cries au secours
C'est le seul carburant qu'on connaisse
Qui augmente à mesure qu'on l'emploie
Le vieillard y retrouve sa jeunesse
Et les jeunes en ont fait une loi.

C'est la banque de toutes les tendresses
C'est une arme pour tous les combats
Ca réchauffe et ca donne du courage
Et ça n'a qu'un slogan " on partage"

Au clair de l'amitié
Le ciel est si beau
Viens boire à l'amitié
Mon ami Pierrot

L'amitié c'est un autre langage
Un regard et tu as tout compris
Et c'est comme S.O.S. dépannage
Tu peux téléphoner jour et nuit.

L'amtitié c'est le faux témoignage
Qui te sauve dans un tribunal
C'est le gars qui te tournes les pages
Quand tu es seul dans un lit d'hopital

C'est la banque de toutes les tendresses
C'est une arme pour tous les combats
Ca rechauffe et ca donne du courage
Et ca n'a qu'un slogan : "on partage";

Os Raios de Mitrídates

Celebra-se o Sol, celebra-se a amizade, os momentos únicos.

Que se celebre Mitrídates, o meu deus, o único em que acredito. O único que vejo surgir e desaparecer. Mitrídates é grande; os amigos preenchem cada instante. Todos os amigos, os presentes, os passados, os futuros. Os que continuam connosco, os que partiram para outras latitudes. Os mais novos, os mais antigos. Os que nos ensinam, os que aprendem.

São a encarnação de Mitrídates. Mitrídates, que desce à terra, não para ser crucificado, mas para se espraiar nos sorrisos dos amigos. Os amigos são raios solares. E Mitrídates é imenso.

The Arrow and The Song

I shot an arrow into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For, so swiftly it flew, the sight
Could not follow it in its flight.

I breathed a song into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For who has sight so keen and strong
That it can follow the flight of song?

Long, long afterward, in an oak
I found the arrow, still unbroke;
And the song, from beginning to end,
I found again in the heart of a friend.

Henry W. Longfellow, in The Belfry of Bruges and Other Poems

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Escritor-Fantasma

"... Sempre que Félix salta para cima da minha secretária, o perigo espreita. Incapaz de travar sobre a superfície de madeira escorregadia, ele desliza até embater no primeiro obstáculo. Esse é, regra geral, o teclado, o monitor ou a impressora, e nunca resulta em quaisquer danos excetuando algumas equimoses. Mas presumo que ele agora já esteja habituado a isso...
Já perdi a conta às vezes que substituí o rato ou o teclado, depois de terem ficado destruídos pelo café ou pelo chá da chávena contra a qual Félix chocou. Se estou prestes a repreendê-lo, a sua expressão deixa-me sempre desarmado. Tudo que consigo fazer é sorrir pela mistura singular de estupefacção e remorso. Além disso, eu também sou culpado. Félix salta para cima da secretária, sempre pelo mesmo lado. Se eu colocasse a chávena do lado oposto, nada disso aconteceria. É justo que eu pague o preço pelo meu erro."

O Escritor-Fantasma, Zoran Zivkovic, trad. de Maria João Freire de Andrade (Cavalo de Ferro)

Cats and Dogs

A ouvir

Humanos e não humanos



O verão é a estação do ano que, grande parte de nós, prefere. Talvez não apenas pelas férias, talvez por sentimentos mais irracionais que nos acompanham desde o início dos tempos.

Mas o verão é também a estação do ano em que mais animais são abandonados. Repetem-se os pedidos, os avisos, as campanhas: Não abandonem os vossos animais. Mas, todos os anos, como se fosse rotina da estação, animais que foram oferecidos como brinquedos no Natal são abandonados no verão.

James Dean
Eu confesso-me uma cat person. Não imagino sequer um mundo sem gatos, ou sem felinos de um modo geral. Na falta de um tigre de Bengala, tenho uma persa chamada Summer. Tive muitos gatos, todos com personalidades diferentes, todos indivíduos diferentes, que recordo como membros da família já falecidos. Há quem prefira cães, há quem prefira até outros animais. Mas qualquer que seja a preferência, um animal não deve, não pode ser abandonado. É um crime, e como crime devia ser punido pela lei.

Quem  tem um gato ou um cão, tem sorrisos mais genuínos, alegrias mais autênticas, uma vida mais feliz. Não há dissabor, não há infelicidade, não há mau humor que não desapareça com o ronronar de um gato, ou as lambidelas de um cão. Um gato ou um cão não nos julgam, não nos avaliam. Que lhes interessa se hoje falhámos, se hoje errámos, se hoje não fomos perfeitos? O amor que têm por nós é verdadeiro, é incondicional.

Não ter um animal, e ainda pior, tê-lo e abandoná-lo, rouba-nos a principal característica que nos define: o sermos humanos. Não ter um animal, ou tê-lo e abandoná-lo, priva-nos de uma experiência importante na vida; priva-nos a possibilidade de sermos amados por quem somos, e amarmos sem condicionantes nem restrições.

Não abandone os seus animais. E, se não tem nenhum, está em boa hora de o adotar. Muitos de nós, humanos, já os adotámos. E sentimo-nos muito orgulhosos por isso.

Stephen King

William Faulkner
Jack Kerouac
Virginia Woolf, e Pinka
Kurt Cobain
Ozzy Osbourne
Mark Twain
Morgan Freeman
James Franco
Marlon Brando


Clark Gable
Adrien Brody




Bob Dylan
Freddie Mercury


Barack Obama, e Bo, o cão-de-água português



Hugh Jackman
Orlando Bloom
Selma Blair
Audrey Hepburn
Truman Capote

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Dehra Dun

Ao som de George Harrison.




Os Flamingos Perdidos de Bombaim

"... Karan descobriu que, com o passar do tempo, não chegara a esquecer Zaira, tal como a sabedoria convencional o fizera crer; em vez disso, começara a recordá-la melhor. As suas especificidades eram apenas cortantes e resplandecentes, como a ponta de uma lança. Pormenores incontáveis agitavam-se no ar como traças perturbadas antes de gelarem lentamente para formar algo de composto e sólido, algo que se encontrava numa oposição direta e indiferente à neblina da memória.
Relutante, tristemente, começara a aceitar que um ser humano não era apenas constituído por tudo aquilo que possuía, era também constituído por tudo aquilo que perdera".



Os Flamingos Perdidos de Bombaim, Siddharth Dhanvant Shanghvi, trad. de Maria João Freire de Andrade (Civilização)

Era uma vez um império...


... e um escritor chamado Rudyard Kipling (1865-1936).

Kipling, autor inglês, nasceu em Bombaim e foi enviado com cinco anos para Inglaterra com a irmã, como era costume na época. Faminto de amor e atenção, Kipling foi maltratado e negligenciado pelo casal na casa do qual ficou alojado, e mais tarde, considerado um fracasso no colégio privado que frequentou, onde lhe tentaram impor regras e uma disciplina que lhe eram estranhas. Ao terminar a escola, e faltando-lhe o "necessário" para entrar na Universidade de Oxford, e não tendo os seus pais meios para lhe continuar a financiar a sua estadia na Grã-Bretanha, o pai arranjou-lhe emprego como editor assistente de um jornal na cidade de Lahore, no Punjab (atual Paquistão). E Kipling regressou à Índia aos dezasseis anos de idade. Desde aí, nunca mais parou de escrever.

Atingiu uma fama rápida, sobretudo devido às suas primeiras histórias, e ao modo como descreveu aquele que foi um dos maiores império coloniais do mundo, o Império Britânico. Apesar de reações críticas subsequentes, e a reputação de ultra-conservador e até nazi (algumas das primeiras edições dos seus trabalhos apareciam com uma suástica, embora na altura o partido nacional-socialista ainda não tivesse começado a utilizar a suástica como o seu símbolo. A utilização da suástica, por parte de Kipling, deveu-se apenas ao símbolo do Sol, a "svastika", utilizado em muitas religiões orientais, desde o hinduismo ao budismo), continuou a manter uma popularidade constante entre o público inglês, e mais tarde, mundial.

Rudyard Kipling recusou o título honorário de Sir, de Poeta Laureado e a Ordem de Mérito, mas viria a aceitar o Prémio Nobel da Literatura em 1907, tornando-se a pessoa mais jovem a alguma vez ter recebido esse prémio.

Mas se Kipling sobreviveu até aos nossos dias através dos seus famosos livros infantis, em especial "O Livro da Selva", pouco se fala dos seus livros para adultos ou da sua poesia. Um dos seus poemas mais célebres chama-se "If", e é ainda hoje considerado um dos poemas mais motivacionais de sempre. Contém uma série de regras para a vida "adulta" e máximas para a integridade pessoal, comportamento e auto-desenvolvimento. Linhas deste poema encontram-se gravadas por cima da entrada dos jogadores no Wimbledon's Centre Court.


If


If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:

If you can dream - and not make dreams your master,
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:


If you can make one heap of all your winnings
And risk it all on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on!"


If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!

in "Rewards and Fairies" (1909)


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Long Live America

Talvez esta seja a verdadeira América, aquela que é pobre, que luta, que não encontra uma saída. A América profunda e interior, a América urbana e degradada. Esta também é a América.




The River - Bruce Sprinsgteen

Liberdade

"... As andorinhas-do-mar erguiam-se de um clima subártico a outro, os gaviões dormiam a voar e nunca aterravam, os tordos cheios de cânticos esperavam por um vento sul e de seguida voavam doze horas sem parar, atravessando países inteiros numa noite. Os arranha-céus e os fios de alta tensão e os moinhos de vento e as torres de telemóveis e o trânsito nas estradas dizimavam milhões de migrantes, mas milhões conseguiam passar, muitos deles regressando à mesma árvore onde tinham nidificado no ano anterior, à mesma cumeeira ou zona húmida onde lhes tinham nascido as penas, e aí, se fossem machos, começavam a cantar. Todos os anos ao chegar, descobriam que mais e mais dos seus antigos lares tinham sido asfaltados e transformados em parques de estacionamento ou em estradas, ou as árvores cortadas e amontoadas, ou urbanizados em parcelas de terrenos, ou devastados para perfurações de petróleo ou mineração de carvão, ou fragmentados em centros comerciais, ou enterrados sob a produção de etanol, ou heterogeneamente arrasados para pistas de esqui, trilhos de bicicleta e campos de golfe... Mas os Estados Unidos ainda eram um país rico e relativamente jovem, e se se procurasse ainda podiam encontrar-se redutos cheios de vida aviária".

Liberdade, Jonathan Franzen, trad. de Maria João Freire de Andrade (Publicações D. Quixote)

I Hear America Singing


Falar da América, neste dia, sem falar de Walt Whitman, o maior poeta de sempre, seria quase um crime de lesa-majestade.

Walt Whitman (1819-1892) foi talvez de todos os autores norte-americanos aquele que mais "cantou" a América, com uma voz de esperança, de fascínio, mas sem nunca esquecer também todos os seus defeitos. Uma sua amiga referiu, "Não se pode compreender a América sem se ter lido Whitman, sem se ter lido Leaves of Grass", e mais tarde Ezra Pound diria a seu respeito, "Whitman é a América".

I Hear America Singing


I hear America singing, the varied carols I hear;
Those of mechanics—each one singing his, as it should be, blithe and strong;
The carpenter singing his, as he measures his plank or beam,
The mason singing his, as he makes ready for work, or leaves off work;
The boatman singing what belongs to him in his boat—the deckhand singing on the steamboat deck;
The shoemaker singing as he sits on his bench—the hatter singing as he stands;
The wood-cutter’s song—the ploughboy’s, on his way in the morning, or at the noon intermission, or at sundown;
The delicious singing of the mother—or of the young wife at work—or of the girl sewing or washing—
Each singing what belongs to her, and to none else;
The day what belongs to the day—
At night, the party of young fellows, robust, friendly,
Singing, with open mouths, their strong melodious songs.

in Leaves of Grass





América, ou o documento que mudou o mundo

Hoje, que se celebram 236 anos da assinatura da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América, parece oportuno falar desta Declaração tão conhecida, mas simultaneamente tão ignorada.


A Declaração de Independência foi um documento adotado pelo Congresso Continental a 4 de Julho de 1776, que anunciava que as treze colónias americanas (na época em guerra com a Grã-Bretanha) se consideravam estados independentes, já não fazendo parte do Império Britânico. Foi reunido um comité para redigir esta declaração formal, de modo que a mesma estivesse pronta quando o Congresso votasse a independência. 


A 11 de Junho de 1776, o Congresso nomeou o chamado "Comité dos Cinco" que consistia de John Adams de Massachusetts, Benjamin Franklin da Pensilvânia, Thomas Jefferson da Virgínia, Robert R. Livingston de Nova Iorque e Roger Sherman do Connecticut, para redigirem a declaração. John Adams convenceu o comité a deixar a redação final da declaração, nas mãos de Thomas Jefferson. Este comité apresentou no dia 28 de Junho, um primeiro esboço ao Congresso. O título deste seria "A Declaration by the Representatives of the United States of America, in General Congress assembled". Durante dois dias, o Congresso reviu meticulosamente este rascunho, reduzindo-o para um quarto do seu tamanho: cortando palavras desnecessárias, restruturando a estrutura semântica, entre outros.


No dia 1 de Julho, após revisão do primeiro esboço da Declaração da Independência, o mesmo foi apresentado a Congresso, para posterior debate em relação ao manuscrito e votação a favor ou contra a independência. A delegação de cada colónia (constituída por dois a sete membros) votou entre si, para determinar o voto final. A Pensilvânia e a Carolina do Sul votaram contra a independência; a delegação de Nova Iorque, que não tinha direito a voto, absteve-se. A colónia do Delaware não votou, porque os seus votos estavam divididos entre dois dos seus membros, um que votara sim, e outro que votara não. Os restantes nove representantes das colónias votaram a favor. Durante os dias que se seguiram, houve vários debates e alterações quanto a anteriores tomadas de posição. Depois deste processo concluído, o Congresso debateu então a própria estrutura do documento.


A 4 de Julho de 1776, a Declaração da Independência foi aprovada e enviada para impressão.


Foi assinada por cinquenta e seis delegados, embora hoje se pense que nem todos a terão assinado no mesmo dia. Os seus principais signatários foram Thomas Jefferson, Benjamin Franklin e John Adams. O primeiro a assiná-la foi o presidente do Congresso, John Hancock. A sua assinatura tornou-se icónica, e o seu nome um sinónimo informal para "assinatura". A título de curiosidade, ainda hoje, é muito popular nos Estados Unidos a expressão "I need your Hancock", entre outras.


Estava declarada a Independência. E a América era, então, o país mais novo do mundo.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Para acompanhar Cavafy, temos Leonard Cohen.

Cohen transformou o poema de Cavafy "The God Abandons Antony" (que fala da perda da cidade de Alexandria e do seu império, por parte de Marco António) neste belíssimo "Alexandra Leaving," que nos fala de um amor perdido.



À Espera dos Bárbaros

La invasión de los bárbaros - Ulpiano Checa
Hoje lembrei-me de Cavafy. Ouvi falar dele pela primeira vez no inesquecível e fabuloso "Quarteto de Alexandria" da autoria de Lawrence Durrell, e fiquei curiosa. Depois de o ter descoberto, nunca mais o quis largar.

Constantine P. Cavafy (1863 – 1933) foi um poeta grego que viveu em Alexandria, grande parte da sua vida. Foi essencial para o renascimento e reconhecimento da poesia grega, tanto no estrangeiro como no seu próprio país. Os temas da sua poesia, para além das figuras reais ou literárias da cultura grega antiga, falam-nos da incerteza quanto ao futuro, da psicologia e do carácter moral dos indivíduos, da homossexualidade e de uma nostalgia fatalista existencial. Um perfeccionista, que revia obsessivamente cada uma das linhas dos seus poemas, é ainda hoje um dos poetas mais difíceis de ser correctamente traduzido, em grande parte devido ao seu estilo de pentâmetro iâmbico livre (também muito utilizado por T.S. Eliot e W. H. Auden).

Hoje, lembrei-me de Cavafy. Lembrei-me que continuamos à espera dos bárbaros. Como Cavafy diz, eles poderiam ser uma solução. Mas os bárbaros ainda não chegaram.



Waiting for the Barbarians

What are we waiting for, assembled in the forum?

The barbarians are due here today.


Why isn’t anything going on in the senate?
Why are the senators sitting there without legislating?

Because the barbarians are coming today.
What’s the point of senators making laws now?
Once the barbarians are here, they’ll do the legislating.


Why did our emperor get up so early,
and why is he sitting enthroned at the city’s main gate,
in state, wearing the crown?

Because the barbarians are coming today
and the emperor’s waiting to receive their leader.
He’s even got a scroll to give him,
loaded with titles, with imposing names.


Why have our two consuls and praetors come out today
wearing their embroidered, their scarlet togas?
Why have they put on bracelets with so many amethysts,
rings sparkling with magnificent emeralds?
Why are they carrying elegant canes
beautifully worked in silver and gold?

Because the barbarians are coming today
and things like that dazzle the barbarians.


Why don’t our distinguished orators turn up as usual
to make their speeches, say what they have to say?

Because the barbarians are coming today
and they’re bored by rhetoric and public speaking.


Why this sudden bewilderment, this confusion?
(How serious people’s faces have become.)
Why are the streets and squares emptying so rapidly,
everyone going home lost in thought?

Because night has fallen and the barbarians haven't come.
And some of our men just in from the border say
there are no barbarians any longer.


Now what’s going to happen to us without barbarians?
Those people were a kind of solution.


in Collected Poems (Trad. de Edmund Keeley e Philip Sherrard)







segunda-feira, 2 de julho de 2012

No Império de Genghis Khan

E um excerto...

"... Subimos até aos vales elevados de erva e nómadas. Ao longe, do nosso lado direito, nuvens prateadas afastaram-se para revelarem um abrigo de cumes brancos, caindo na nossa direcção. Conseguíamos cheirá-los através das janelas abertas, o cheiro delicado da neve, dos pinheiros e do ar da montanha. 

Na extremidade mais afastada de um desfiladeiro estreito, descemos até ao vale da Kakhara, deserto e prístino, repleto do cântico de pássaros, sob a luz do anoitecer. Ribeiros montanhosos cintilavam entre erva que tinha a altura de um cavalo. O vale erguia-se majestosamente até um horizonte distante, que poderia ter assinalado a extremidade do mundo. Como um prelúdio à Mongólia, poucos lugares poderiam ser tão prometedores. "

No Império de Genghis Khan, Viagem entre os Nómadas, Stanley Stewart, trad. de Maria João Freire de Andrade (Publicações Europa-América - 2003)
E que melhor música de acompanhamento para o belíssimo "Kubla Khan", do que o grupo de música folcolórica mongol, Borte ( curiosamente, o nome da primeira mulher de Genghis Khan).


Esquecidos - II

Outro grande esquecido, é Samuel Taylor Coleridge (1772-1843), de quem hoje pouco se fala, mas que foi um dos "pais" do romantismo inglês. 

Um dos seus mais belos poemas chama-se "Kubla Khan: or a vision in a dream. A fragment".  Samuel Coleridge terá contado a um amigo, que este poema lhe surgira composto em sonhos, e que assim que acordou sentou-se de imediato a escrevê-lo. Teria sonhado com umas 200 ou 300 linhas, mas enquanto o escrevia alguém o interrompeu, e ele descobriu que o resto do poema se lhe tinha varrido da memória.


O seu título refere-se a Kublai Khan, quinto Grande Khan do Império Mongol e fundador da dinastia Yuan, que dominou uma grande região da Ásia Central durante o século XIII. Neto de Genghis Khan, senhor de um dos maiores impérios da história e o único que não deixou vestígios (o império  também chamado de "Império em Movimento"), Kublai Khan fez de Khanbali (atual Pequim) a sua capital, substituindo a mítica Karakorum, a capital ancestral dos mongóis. 


Kubla Khan

In Xanadu did Kubla Khan
A stately pleasure-dome decree:
Where Alph, the sacred river, ran
Through caverns measureless to man
Down to a sunless sea.


So twice five miles of fertile ground
With walls and towers were girdled round:
And there were gardens bright with sinuous rills,
Where blossomed many an incense-bearing tree;
And here were forests ancient as the hills,
Enfolding sunny spots of greenery.


But oh! that deep romantic chasm which slanted
Down the green hill athwart a cedarn cover!
A savage place! as holy and enchanted
As e'er beneath a waning moon was haunted
By woman wailing for her demon-lover!
And from this chasm, with ceaseless turmoil seething,
As if this earth in fast thick pants were breathing,
A mighty fountain momently was forced:
Amid whose swift half-intermitted burst
Huge fragments vaulted like rebounding hail,
Or chaffy grain beneath the thresher's flail:
And 'mid these dancing rocks at once and ever
It flung up momently the sacred river.
Five miles meandering with a mazy motion
Through wood and dale the sacred river ran,
Then reached the caverns measureless to man,
And sank in tumult to a lifeless ocean:
And 'mid this tumult Kubla heard from far
Ancestral voices prophesying war!


The shadow of the dome of pleasure
Floated midway on the waves;
Where was heard the mingled measure
From the fountain and the caves.
It was a miracle of rare device,
A sunny pleasure-dome with caves of ice!


A damsel with a dulcimer
In a vision once I saw:
It was an Abyssinian maid,
And on her dulcimer she played,
Singing of Mount Abora.
Could I revive within me
Her symphony and song,
To such a deep delight 'twould win me
That with music loud and long
I would build that dome in air,
That sunny dome! those caves of ice!
And all who heard should see them there,
And all should cry, Beware! Beware!
His flashing eyes, his floating hair!
Weave a circle round him thrice,
And close your eyes with holy dread,
For he on honey-dew hath fed
And drunk the milk of Paradise.


Kubla Khan: or a vision in a dream. A fragment (concluído em 1797 e publicado em 1816)