quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Comes and Goes - Greg Laswell


O Melhor de Portugal

Eu tenho muito, muito mau feitio. E confesso que há coisas que me irritam solenemente.

Uma delas são os constantes comentários negativos à prestação portuguesa nos Jogos Olímpicos, que se ouvem e que se leem nas redes sociais. Sim, estamos a ser eliminados; sim, não somos tão bons como
os outros países. Mas ninguém se lembra que os nossos atletas não têm nem metade, nem um terço dos meios dos atletas dos outros países. Não têm patrocinadores como os outros, não têm estados inteiros a apoiá-los. Não têm sequer um "povo" que os apoie.

Há uns tempos ouvi falar de uma atleta do norte, que iria participar nos campeonatos mundiais no Cazaquistão, mas que devido a cortes, para o poder fazer teria de pagar a sua participação do próprio bolso. Precisava de 1200 €. O treinador, habitantes e empresas da região reuniram-se e conseguiram juntar 900€. Não participou. Não pôde. Por 300 €. Este é apenas um exemplo, entre muitos, muitos, que de certeza existem.

Todos os portugueses que integram a delegação portuguesa são já campeões olímpicos por direito próprio. Estão lá por pura força de vontade, por pura perseverança. Fazem o que podem com o pouco que têm; e são agora constantemente humilhados em comentários estúpidos por treinadores de sofá "portugueses", que refastelados nas suas casas, só se lembram deles para os denegrir e vilipendiar. Não falam deles durante anos, nem sabem quem são, nem o esforço e o sacrifício de que necessitaram para chegar onde chegaram. Todos conhecem a Seleção Nacional de Futebol, e quem saiu de que clube da 1ª Divisão para se juntar a outro. Mas ninguém sabe sequer os nomes dos elementos da delegação portuguesa.

Os nossos atletas podem não ganhar medalhas, podem até ser eliminados, mas a sua simples presença, a presença da sua força de vontade para representar um país que, pura e simplesmente, os ignora anos a fio, vale mais que todo o ouro do mundo.

Eu orgulho-me dos eliminados e vencidos da Delegação Olímpica Portuguesa. São Portugal no seu melhor.

domingo, 29 de julho de 2012

l'Amitié - Herbert Pagani

L'Amitié - Herbert Pagani

Ca fleurit comme une herbe sauvage
N'importe où, en prison, à l'école,
Tu la prends comme on prend la rougeole
Tu la prends comme on prend un virage

C'est plus fort que les liens de famille
Et c'est moins complique que l'amour
Et c'est là quand t'es rond comme une bille
Et c'est là quand tu cries au secours
C'est le seul carburant qu'on connaisse
Qui augmente à mesure qu'on l'emploie
Le vieillard y retrouve sa jeunesse
Et les jeunes en ont fait une loi.

C'est la banque de toutes les tendresses
C'est une arme pour tous les combats
Ca réchauffe et ca donne du courage
Et ça n'a qu'un slogan " on partage"

Au clair de l'amitié
Le ciel est si beau
Viens boire à l'amitié
Mon ami Pierrot

L'amitié c'est un autre langage
Un regard et tu as tout compris
Et c'est comme S.O.S. dépannage
Tu peux téléphoner jour et nuit.

L'amtitié c'est le faux témoignage
Qui te sauve dans un tribunal
C'est le gars qui te tournes les pages
Quand tu es seul dans un lit d'hopital

C'est la banque de toutes les tendresses
C'est une arme pour tous les combats
Ca rechauffe et ca donne du courage
Et ca n'a qu'un slogan : "on partage";

Os Raios de Mitrídates

Celebra-se o Sol, celebra-se a amizade, os momentos únicos.

Que se celebre Mitrídates, o meu deus, o único em que acredito. O único que vejo surgir e desaparecer. Mitrídates é grande; os amigos preenchem cada instante. Todos os amigos, os presentes, os passados, os futuros. Os que continuam connosco, os que partiram para outras latitudes. Os mais novos, os mais antigos. Os que nos ensinam, os que aprendem.

São a encarnação de Mitrídates. Mitrídates, que desce à terra, não para ser crucificado, mas para se espraiar nos sorrisos dos amigos. Os amigos são raios solares. E Mitrídates é imenso.

The Arrow and The Song

I shot an arrow into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For, so swiftly it flew, the sight
Could not follow it in its flight.

I breathed a song into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For who has sight so keen and strong
That it can follow the flight of song?

Long, long afterward, in an oak
I found the arrow, still unbroke;
And the song, from beginning to end,
I found again in the heart of a friend.

Henry W. Longfellow, in The Belfry of Bruges and Other Poems

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Escritor-Fantasma

"... Sempre que Félix salta para cima da minha secretária, o perigo espreita. Incapaz de travar sobre a superfície de madeira escorregadia, ele desliza até embater no primeiro obstáculo. Esse é, regra geral, o teclado, o monitor ou a impressora, e nunca resulta em quaisquer danos excetuando algumas equimoses. Mas presumo que ele agora já esteja habituado a isso...
Já perdi a conta às vezes que substituí o rato ou o teclado, depois de terem ficado destruídos pelo café ou pelo chá da chávena contra a qual Félix chocou. Se estou prestes a repreendê-lo, a sua expressão deixa-me sempre desarmado. Tudo que consigo fazer é sorrir pela mistura singular de estupefacção e remorso. Além disso, eu também sou culpado. Félix salta para cima da secretária, sempre pelo mesmo lado. Se eu colocasse a chávena do lado oposto, nada disso aconteceria. É justo que eu pague o preço pelo meu erro."

O Escritor-Fantasma, Zoran Zivkovic, trad. de Maria João Freire de Andrade (Cavalo de Ferro)