Sou tradutora, mas não sou crítica literária. Sou tradutora, mas antes de o ser, fui leitora; ou sendo tradutora, sou também leitora.
Assim, começarei de vez em quando a colocar aqui na minha Coluna de Fumo, as minhas opiniões a respeito do que vou lendo. Será apenas a minha opinião e vale o que vale, e não pretendo utilizar raciocínios demasiado elaborados, nem palavras demasiado rebuscadas. Não tenho preparação para isso, mas mesmo que o tivesse não o faria. Quando leio um livro, não o estou a racionalizar. Estou, simplesmente, a lê-lo com maior ou menor prazer. E também não me parece que quem leia as minhas opiniões, esteja interessado nisso. Na verdade, quem estará até interessado nas minhas opiniões?
Começo assim estas minhas opiniões, com o fabuloso "O Sino da Islândia" de Halldór Laxness (Prémio Nobel da Literatura 1955), publicado em Setembro de 2012, pela Cavalo de Ferro. Não preciso de contar a história do livro, para isso basta consultar o site da Editora em http://www.cavalodeferro.com. Mas posso falar-vos do que é ler um livro destes.
Pegar n' O Sino da Islândia, é tocar em neve, em musgo húmido. É ver um povo pobre e oprimido, num outro século, numa outra vida. É ouvir as suas vozes, os seus gritos. É cheirar as suas manhãs, o seu mar. É saborear o seu peixe, a sua fome. Ler O Sino da Islândia é transcender o próprio sentido de "ler algo". O Sino da Islândia não se lê: inala-se. Há uma claridade que se instala, todo um outro mundo que se abre. Os pulmões ficam desobstruídos, os olhos mais límpidos, a garganta mais desanuviada. O Sino da Islândia não deve ser lido, deve ser respirado.
E quando se chega ao fim e se vêem passar os "cavalos negros, molhados de orvalho", sabemos que passámos por um momento único na vida. Voltamos a guardá-lo na estante, não o vamos trocar ou emprestar, porque haverá um dia em que quereremos lá voltar. Ou, citando uma das personagens do livro, "Neste pobre país onde tudo morre, dias destes reflectem a verdadeira natureza da vida eterna". E eu vou um pouco mais longe, "Neste pobre mundo onde tudo se corrompe, livros destes roçam a perfeição".
Deixo também uma chamada de atenção, para a extraordinária tradução de João Reis. Sem ela, esta obra de arte não teria tamanha intensidade. Obrigada, João.
Caramba! Fiquei com vontade de ler!... Não! Sentir!!
ResponderEliminarSim, fez isso, fiquei com vontade de ler! :)
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