domingo, 21 de outubro de 2012

O Caso do Cachalote Vingativo

A 12 de Agosto de 1819, o baleeiro Essex partiu de Nantucket, no estado norte-americano do Massachusetts, dirigindo-se aos mares férteis em baleias da costa ocidental da América do Sul. Era pilotado pelo capitão George Pollard de 29 anos, e por Owen Chase de 23. O elemento mais novo da tripulação, Thomas Nickerson tinha apenas 15 anos de idade. Previa-se que esta viagem durasse dois anos e meio.



Foi uma viagem cheia de acidentes e precalços. Tempestades, mudanças de rumo, ilhas povoadas por canibais, incêndios, algum descontentamento a bordo entre a tripulação. Mas a 20 de Novembro de 1820, tudo mudou. Mudou o destino do Essex e mudou, de certo modo, a história da Literatura mundial.

A milhares de milhas da costa sul-americana, o Essex enfrentava uma tensão crescente entre Pollard e Chase, em grande parte devido à falta de pesca. Neste dia em particular, foram avistados alguns esguichos de baleias. A sotavento do Essex, o bote de Chase aproou uma baleia mas o flanco do animal atingiu o bote e abriu uma fenda no casco; a barlavento, o bote onde o capitão Pollard e o segundo imediato se encontravam também tinha arpoado uma baleia, e estava a ser arrastado a uma velocidade vertiginosa. Depois de regressar ao Essex para reparar o seu bote, Chase bem com a tripulação avistaram um cachalote que se comportava de um modo bizarro.

Era muito maior do que os cachalotes normais (presume-se que teria 26 metros de comprimento), e permanecia imóvel à superfície da água com a cabeça virada para o navio. De repente, ganhando velocidade, começou a mover-se na direção do Essex. Primeiro, abalroou-o e depois mergulhou; debaixo de água, voltou a abalroá-lo, e fez com que a embarcação se inclinasse. Acabou por reemergir a estibordo do Essex, com a cabeça virada para a popa e a cauda para a proa, e parecia atordoado e ferido. Chase preparou-se para o aproar, quando se apercebeu que a cauda do cachalote se encontrava a centímetros do leme. Receando que o animal o pudesse destruir se provocado, Chase decidiu não o aproar. O cachalote recuperou e nadou algumas centenas de metros à frente do navio, parou e virou-se de novo para a proa. E voltou a atacar. Desta vez, esmagou a popa como se não passasse de uma casca de noz, fazendo com que a embarcação de 238 toneladas se inclinasse perigosamente para trás. Depois, soltou a cabeça dos destroços, deixando o Essex a afundar-se e nunca mais foi visto.    



Aparentemente, esta história nada teria de especial. Apenas mais um baleeiro que partia para a pesca da baleia, numa viagem longa e árdua. Uma viagem que correu mal. Mas esta história, a história dos seus poucos sobreviventes (alguns dos quais  recorreram ao chamado "costume do mar", em que a tripulação pratica o canibalismo tirando à sorte qual o primeiro que irá ser comido), viria anos mais tarde a inflamar a imaginação de um jovem chamado Herman Melville.

Em 1841, Herman Melville (1819-1891) partiu a bordo do Acushnet rumo ao oceano Pacífico. Nessa viagem, encontraram-se com outro navio no qual era tripulante o filho de Owen Chase. Este terá contado a Melville a história do Essex e do gigantesco cachalote vingativo. Obcecado pela violência de semelhante animal, e por aquela história tão insólita, Melville iria recriar através dos relatos dos sobreviventes todo o episódio. Para além do capitão Pollard, terá contactado Thomas Nickerson, aquele que de todos os sobreviventes fez um relato mais exato do que se passou.

Assim, acaba a história do baleeiro Essex. E assim começa a história de Moby Dick:


Chamem-me Ismael



 


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