A-Rovin, um dos mais conhecidos Sea Shanties de todos os tempos.
domingo, 21 de outubro de 2012
"No Coração do Mar"
Para quem gosta de aventuras marítimas, para quem gosta de conhecer as histórias atrás das histórias, aconselho o livro "No Coração do Mar" de Nathaniel Philbrick (Publicações Europa-América). Aqui, encontram-se grande parte dos relatos de Thomas Nickerson, Charles Pollard, bem como descrições vívidas de uma Nantucket desaparecida, e da vida das suas gentes.
Baseado neste livro, encontra-se neste momento em pré-produção um filme com realização de Edward Zwick, que irá ter no principal papel Chris Hemsworth.
Baseado neste livro, encontra-se neste momento em pré-produção um filme com realização de Edward Zwick, que irá ter no principal papel Chris Hemsworth.
O Caso do Cachalote Vingativo
A 12 de Agosto de 1819, o baleeiro Essex partiu de Nantucket, no estado norte-americano do Massachusetts, dirigindo-se aos mares férteis em baleias da costa ocidental da América do Sul. Era pilotado pelo capitão George Pollard de 29 anos, e por Owen Chase de 23. O elemento mais novo da tripulação, Thomas Nickerson tinha apenas 15 anos de idade. Previa-se que esta viagem durasse dois anos e meio.
Foi uma viagem cheia de acidentes e precalços. Tempestades, mudanças de rumo, ilhas povoadas por canibais, incêndios, algum descontentamento a bordo entre a tripulação. Mas a 20 de Novembro de 1820, tudo mudou. Mudou o destino do Essex e mudou, de certo modo, a história da Literatura mundial.
A milhares de milhas da costa sul-americana, o Essex enfrentava uma tensão crescente entre Pollard e Chase, em grande parte devido à falta de pesca. Neste dia em particular, foram avistados alguns esguichos de baleias. A sotavento do Essex, o bote de Chase aproou uma baleia mas o flanco do animal atingiu o bote e abriu uma fenda no casco; a barlavento, o bote onde o capitão Pollard e o segundo imediato se encontravam também tinha arpoado uma baleia, e estava a ser arrastado a uma velocidade vertiginosa. Depois de regressar ao Essex para reparar o seu bote, Chase bem com a tripulação avistaram um cachalote que se comportava de um modo bizarro.
Era muito maior do que os cachalotes normais (presume-se que teria 26 metros de comprimento), e permanecia imóvel à superfície da água com a cabeça virada para o navio. De repente, ganhando velocidade, começou a mover-se na direção do Essex. Primeiro, abalroou-o e depois mergulhou; debaixo de água, voltou a abalroá-lo, e fez com que a embarcação se inclinasse. Acabou por reemergir a estibordo do Essex, com a cabeça virada para a popa e a cauda para a proa, e parecia atordoado e ferido. Chase preparou-se para o aproar, quando se apercebeu que a cauda do cachalote se encontrava a centímetros do leme. Receando que o animal o pudesse destruir se provocado, Chase decidiu não o aproar. O cachalote recuperou e nadou algumas centenas de metros à frente do navio, parou e virou-se de novo para a proa. E voltou a atacar. Desta vez, esmagou a popa como se não passasse de uma casca de noz, fazendo com que a embarcação de 238 toneladas se inclinasse perigosamente para trás. Depois, soltou a cabeça dos destroços, deixando o Essex a afundar-se e nunca mais foi visto.
Aparentemente, esta história nada teria de especial. Apenas mais um baleeiro que partia para a pesca da baleia, numa viagem longa e árdua. Uma viagem que correu mal. Mas esta história, a história dos seus poucos sobreviventes (alguns dos quais recorreram ao chamado "costume do mar", em que a tripulação pratica o canibalismo tirando à sorte qual o primeiro que irá ser comido), viria anos mais tarde a inflamar a imaginação de um jovem chamado Herman Melville.
Em 1841, Herman Melville (1819-1891) partiu a bordo do Acushnet rumo ao oceano Pacífico. Nessa viagem, encontraram-se com outro navio no qual era tripulante o filho de Owen Chase. Este terá contado a Melville a história do Essex e do gigantesco cachalote vingativo. Obcecado pela violência de semelhante animal, e por aquela história tão insólita, Melville iria recriar através dos relatos dos sobreviventes todo o episódio. Para além do capitão Pollard, terá contactado Thomas Nickerson, aquele que de todos os sobreviventes fez um relato mais exato do que se passou.
Assim, acaba a história do baleeiro Essex. E assim começa a história de Moby Dick:
Chamem-me Ismael
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Cânticos do Tecto do Mundo
E para acompanhar a leitura de "O Sino da Islândia". deixo-vos com Ólafur Liljurós, uma canção tradicional víkivaki, datada do século XIV, que nos fala de elfos, do cristianismo e de escolhas.
Roçando a perfeição
Sou tradutora, mas não sou crítica literária. Sou tradutora, mas antes de o ser, fui leitora; ou sendo tradutora, sou também leitora.
Assim, começarei de vez em quando a colocar aqui na minha Coluna de Fumo, as minhas opiniões a respeito do que vou lendo. Será apenas a minha opinião e vale o que vale, e não pretendo utilizar raciocínios demasiado elaborados, nem palavras demasiado rebuscadas. Não tenho preparação para isso, mas mesmo que o tivesse não o faria. Quando leio um livro, não o estou a racionalizar. Estou, simplesmente, a lê-lo com maior ou menor prazer. E também não me parece que quem leia as minhas opiniões, esteja interessado nisso. Na verdade, quem estará até interessado nas minhas opiniões?
Começo assim estas minhas opiniões, com o fabuloso "O Sino da Islândia" de Halldór Laxness (Prémio Nobel da Literatura 1955), publicado em Setembro de 2012, pela Cavalo de Ferro. Não preciso de contar a história do livro, para isso basta consultar o site da Editora em http://www.cavalodeferro.com. Mas posso falar-vos do que é ler um livro destes.
Pegar n' O Sino da Islândia, é tocar em neve, em musgo húmido. É ver um povo pobre e oprimido, num outro século, numa outra vida. É ouvir as suas vozes, os seus gritos. É cheirar as suas manhãs, o seu mar. É saborear o seu peixe, a sua fome. Ler O Sino da Islândia é transcender o próprio sentido de "ler algo". O Sino da Islândia não se lê: inala-se. Há uma claridade que se instala, todo um outro mundo que se abre. Os pulmões ficam desobstruídos, os olhos mais límpidos, a garganta mais desanuviada. O Sino da Islândia não deve ser lido, deve ser respirado.
E quando se chega ao fim e se vêem passar os "cavalos negros, molhados de orvalho", sabemos que passámos por um momento único na vida. Voltamos a guardá-lo na estante, não o vamos trocar ou emprestar, porque haverá um dia em que quereremos lá voltar. Ou, citando uma das personagens do livro, "Neste pobre país onde tudo morre, dias destes reflectem a verdadeira natureza da vida eterna". E eu vou um pouco mais longe, "Neste pobre mundo onde tudo se corrompe, livros destes roçam a perfeição".
Deixo também uma chamada de atenção, para a extraordinária tradução de João Reis. Sem ela, esta obra de arte não teria tamanha intensidade. Obrigada, João.
Assim, começarei de vez em quando a colocar aqui na minha Coluna de Fumo, as minhas opiniões a respeito do que vou lendo. Será apenas a minha opinião e vale o que vale, e não pretendo utilizar raciocínios demasiado elaborados, nem palavras demasiado rebuscadas. Não tenho preparação para isso, mas mesmo que o tivesse não o faria. Quando leio um livro, não o estou a racionalizar. Estou, simplesmente, a lê-lo com maior ou menor prazer. E também não me parece que quem leia as minhas opiniões, esteja interessado nisso. Na verdade, quem estará até interessado nas minhas opiniões?
Começo assim estas minhas opiniões, com o fabuloso "O Sino da Islândia" de Halldór Laxness (Prémio Nobel da Literatura 1955), publicado em Setembro de 2012, pela Cavalo de Ferro. Não preciso de contar a história do livro, para isso basta consultar o site da Editora em http://www.cavalodeferro.com. Mas posso falar-vos do que é ler um livro destes.
Pegar n' O Sino da Islândia, é tocar em neve, em musgo húmido. É ver um povo pobre e oprimido, num outro século, numa outra vida. É ouvir as suas vozes, os seus gritos. É cheirar as suas manhãs, o seu mar. É saborear o seu peixe, a sua fome. Ler O Sino da Islândia é transcender o próprio sentido de "ler algo". O Sino da Islândia não se lê: inala-se. Há uma claridade que se instala, todo um outro mundo que se abre. Os pulmões ficam desobstruídos, os olhos mais límpidos, a garganta mais desanuviada. O Sino da Islândia não deve ser lido, deve ser respirado.
E quando se chega ao fim e se vêem passar os "cavalos negros, molhados de orvalho", sabemos que passámos por um momento único na vida. Voltamos a guardá-lo na estante, não o vamos trocar ou emprestar, porque haverá um dia em que quereremos lá voltar. Ou, citando uma das personagens do livro, "Neste pobre país onde tudo morre, dias destes reflectem a verdadeira natureza da vida eterna". E eu vou um pouco mais longe, "Neste pobre mundo onde tudo se corrompe, livros destes roçam a perfeição".
Deixo também uma chamada de atenção, para a extraordinária tradução de João Reis. Sem ela, esta obra de arte não teria tamanha intensidade. Obrigada, João.
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